Por que é tão difícil abrir mão de padrões que sabotam a nossa forma de amar, viver e ser feliz? Pois estamos muito identificados com a nossa “criança emocional” ou “criança ferida”. Quando conseguimos entende-la, transcendemos sua influência e podemos escolher
Uma das experiências mais profundas e gratificantes que podemos viver é amar e ser amado. A vivência do amor também é uma necessidade básica do ser humano. Se, por exemplo, um bebezinho nasce e não tem toque, afeto, carinho ou não recebe amor, ele poderá não sobreviver.
Muitos padrões e condicionamentos nos sabotam e nos impedem de vivenciar o amor pois não nascemos sabendo amar. Nascemos com um potencial para amar, como uma sementinha que tem o potencial para florescer. Por isso, precisamos aprender a amar.
Para amar, viver e ser feliz, precisamos antes conhecer as nossas feridas, reconhecer nossa criança emocional em ação, seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Assim, a consciência amadurece.
Na Terapia da criança ferida (Learning Love) fazemos esse mergulho interno com muita gentileza e suavidade. Já passamos por muitos traumas, invasões e repressões; diante disso, trata-se de um trabalho terapêutico feito com muita delicadeza.
Nascemos como uma tela em branco, sem medo, insegurança, vergonha e/ou desconfiança. No decorrer da nossa história de vida, alguns acontecimentos são traumáticos. Diante de experiências de dor e sofrimento, a criança vai se encontrando com esse espaço interno emocional.
Hoje não somos mais crianças, mas carregamos esta instância psíquica dentro de nós. Vivendo prioritariamente nesse estado infantil, já adultos, nos identificarmos muito mais com a imagem do “patinho feio” e não reconhecemos nosso “cisne”. Nos sentimos menos, desvalorizados e sem vitalidade – e não estamos identificados com a nossa essência/alma, com a nossa energia vital.
Importante: todos nós temos a nossa “criança ferida” ou “criança emocional”, e muitas vezes ela está presente em quase 70% dos nossos comportamentos. É uma força que orienta nossos pensamentos e sentimentos sem que possamos perceber. Por exemplo, é quando somos ativados por um gatilho (de uma fala ou comportamento ou porque outro deixou de fazer algo) e reagimos instantaneamente, com comportamentos quase que completamente inconscientes.
Como perceber que estamos vivenciando o espaço mental da criança emocional? Aqui vou destacar três de suas características básicas: a criança ferida não tem capacidade de amar, não consegue estar presente no aqui e agora, e não consegue suportar o desconforto.
1) A criança emocional não tem capacidade de amar
Quando sou pedinte e entrego a minha vida para o outro, pois é ele que tem a responsabilidade de cuidar de mim e me fazer feliz, estou nesse espaço emocional. Nos relacionamentos, é quando estou cheio expectativas, e espero que o outro satisfaça meus desejos e descubra o que eu quero sem que eu precise falar nada. E quando estou nesse espaço não tenho a capacidade de amar.
2) A criança emocional não consegue estar presente no aqui e agora
Por exemplo, quando falo para uma criança: “você vai comer o doce só depois que almoçar”. A criança se desespera; para ela não tem depois, só existe aqui e agora. Falta capacidade de estar no presente.
Se não estou presente no momento, não posso ter a capacidade de viver a dor e suportar o desconforto. Preciso ter gratificação e prazer o tempo todo. Contudo, na vida é impossível termos tudo na hora que quisermos.
No espaço da criança ferida, também estamos cheios de ansiedade (um dos sintomas mais intensos). Assim, se não estou no momento presente, estou ansioso; logo estou nesse espaço de inconsciência.
* Quando sou tomado por meus sentimentos, posso entrar em um estado de transe ou dentro de uma bolha. E não consigo te ouvir ou te perceber. Nesse espaço “eu só quero se for hoje e agora, pois amanhã eu posso não estar mais aqui”, não se tem a dimensão do amanhã.
3) A criança emocional não consegue suportar o desconforto
Quando acontece alguma coisa na nossa vida e não temos amor, afeto e/ou não temos o outro disponível, posso entrar em pânico. E é quando não temos a capacidade de respirar suportar que naquele momento não temos o apoio necessário, é que vamos para o comportamento de vício – para abafar esse desconforto – para satisfazer a necessidade imediata de gratificação e prazer.
“A compreensão do estado mental da criança emocional explica muito sobre a vida. Nós conseguimos entender por que e como reagimos, por que temos tanto medo, por que tanta necessidade de amor e atenção e por que é tão difícil permitir que alguém se aproxime de nós. Conseguimos também entender por que sentimos tanta vergonha e somos tão desconfiados, por que ficamos tão incomodados, por que temos tantos problemas para expressar nossa sexualidade, a nossa criatividade, a nossa capacidade de afirmação. Assim, todos esses são insights da nossa vida diária.” O amor não é um jogo de criança (Krishnananda)